quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Como realmente testar: asserções

Falei bastante sobre testes nos dois últimos posts, conceituei testes funcionais e de unidade, falei sobre como criar fixtures, mas faltou a prática de verdade: como usar tudo isso para testar tudo?

Como já disse, testes são conjuntos de asserções. Uma asserção verifica se os parâmetros indicados nela estão válidos, se não estiverem ela retorna uma Falha. O teste executa asserção por asserção, se alguma falhar ele é interrompido, aponta a falha e diz qual das asserções falharam. Se o teste encontrar qualquer erro de sintaxe ou de execução, em vez de retornar uma falha, ele retorna um Erro. Isso já faz ter uma noção simples: caso haja uma Falha, houve erro de lógica, caso haja um Erro, houve erro de codificação.

O exemplo mais básico de asserção é o assert, que verifica se o parâmetro passado é true (lembrem-se que, em Ruby, tudo o que não for nil ou false é verdadeiro.

Porém, apenas com assert não dá para fazer tanta coisa. Sim, podemos ver se uma validação está funcionando corretamente (sim, eu prometo explicar validações), podemos ver se um objeto é igual ao outro usando operadores lógicos, podemos ver se um objeto é instância de determinada classe. Mas fazer tudo isso com assert torna as coisas mais ilegíveis, e é um tanto mais difícil identificar para que serve uma certa asserção. Por isso, existem vários tipos de asserções utilizáveis.

Para aprender outros tipos de asserções, vamos ter alguma ideia de outras funcionalidades para o modelo Pessoa. Digamos que você queira um método que diga o salário líquido da pessoa. Digamos que, caso a pessoa receba menos de 200 reais ela não pague imposto algum. Se o salário for maior ou igual a 200 e menor que 300 ela pague 10% de imposto, se e for 300 ou maior ela pague 20% (impostos tão baixos? Sonho de todo brasileiro...).

Antes de TUDO, vamos abrir aquela fixture para termos dados para testar. Apague tudo o que estiver na fixture e digite isso:

<% for i in (1..4) %>
pessoa_<%= i %>:
  id: <%= i %>
  nome: pes_<%= i %>
  salario: <%= i * 100 %>
  data_nascimento: <%= Date.civil(1980, i, i) %>
<% end %>


Sim, bem parecido com o último exemplo, mas dessa vez há apenas quatro dados.

Agora, ao teste.

Abra o arquivo test/unit/pessoa_test.rb

Insira, abaixo do método definido anteriormente, o seguinte código:

def test_salario_liquido_correto
  assert_equal 100, pessoas(:pessoa_1).salario_liquido
  assert_equal 180, pessoas(:pessoa_2).salario_liquido
  assert_equal 240, pessoas(:pessoa_3).salario_liquido
  assert_equal 320, pessoas(:pessoa_4).salario_liquido
end


Lembram que eu ensinaria como acessar dados da fixture? Aí está. O método tem o mesmo nome do arquivo que guarda os dados (se o arquivo for pessoas.yml, o método é pessoas), e para recuperar um registro específico, você passa como parâmetro o símbolo equivalente à definição do registro.

Por exemplo, no velho exemplo do "programador" (não mude o código da fixture, ok?):

programador:
  id: 1
  nome: Yuri Albuquerque
  salario: 100.00
  data_nascimento: <%= Date.civil(1989, 11, 9) %>

Você acessaria o registro com pessoas(:programador). Sim, simples assim.

Ao fazer isso, você tem uma instância do modelo, e pode chamar qualquer método dele. Por isso o pessoas(:pessoa_1).salario_liquido, eu estou acessando um método da instância do modelo Pessoa.

E atente para a ordem dos parâmetros dada. Ela não é imprescindível, mas, por padrão, o valor esperado vem antes do valor real.

Agora abra o console, vá até o diretório da aplicação e digite

rake


Depois de um tempo você verá que o teste indicou um Erro. E era isso que você deveria esperar, afinal, você tentou acessar um método que não existe (salario_liquido).

Se ele não existe, vamos criá-lo.

Abra o arquivo app/models/pessoa.rb

Lembre-se que esse arquivo define tudo do modelo, seus métodos de instância, seus métodos de classe, suas validações, seus atributos. Se você for um bom programador de Rails, vai fazer boa parte das implementações no Modelo e deixar o controlador cuidar apenas dos redirecionamentos. Não é o meu caso, infelizmente.

Acrescente esse método à classe:

def salario_liquido
  return(salario) if salario < 200
  return(salario * 0.9) if salario >= 200 and salario < 300
  return(salario * 0.8) if salario >= 300
end


Creio que eu não precise explicar o que esse método faz. Rode o rake novamente e veja seu teste apontar um sucesso.

É óbvio que assert e assert_equal não são os únicos métodos dos testes de unidade do Rails. Existem métodos para as mais diversas situações. Vamos a alguns deles:

  • assert_not_equal(obj1, obj2): é o oposto de assert_equal, verifica se os parâmetros dados são diferentes
  • assert_same(obj1, obj2): levemente diferente de assert_equal. Verifica se ambos os objetos têm o mesmo endereço de memória
  • assert_not_same(obj1, obj2): verifica se os objetos não são os mesmos
  • assert_nil(obj): verifica se o objeto está vazio, ou seja, nil
  • assert_not_nil(obj): verifica se o objeto não está vazio
  • assert_match(regex, str): verifica se a string passada combina com a Expressão Regular passada (Expressões Regulares são um assunto comprido, complexo, que enchem livros e livros. Não é o objetivo desse blog detalhá-las).
  • assert_no_match(regex, str): verifica se a string passada não combina com a Expressão Regular passada
  • assert_in_delta(expect, actual, delta): verifica se os números passados estão equivalentes dentro da faixa de tolerância delta dada.
  • assert_throw(symbol) { block }: verifica se o bloco de código "lança" (throw) o símbolo. Blocos de código são uma característica da linguagem Ruby, caso não conheça, sugiro pesquisar sobre eles imediatamente. Mas funciona como passagem de código por "parâmetro".
  • assert_raise(exception1, exception2, ...) { block }: verifica se o bloco de código retorna os erros (exceptions) dados
  • assert_nothing_raised(exception1, exception2, ...) { block }: verifica se o bloco não retorna nenhum dos erros dados
  • assert_instance_of(classe, objeto): verifica se o objeto percence à classe dada.
  • assert_kind_of(classe, objeto): verifica se o objeto percence a alguma classe filha da classe dada.
  • assert_respond_to(objeto, symbol): verifica se o objeto possui o método com o mesmo nome do símbolo.
  • assert_operator(obj1, operator, obj2): verifica se é possível executar obj1.operator(obj2)
  • assert_send(array): verifica se o método listado na array[1], executado no objeto na array[0], com os parâmetros na array[2] em diante retornam true. Sim, bem confuso. Mas não se preocupem muito com esse, por enquanto, particularmente nunca me foi necessário. Tentarei dedicar um post a ele, assim que aprendê-lo exatamente.
  • flunk: sempre retorna uma falha. Bom para indicar testes incompletos.
Lembre-se de testar tudo o que for possível no seu código. Os guias do Ruby on Rails (guias.rubyonrails.pro.br) sugerem fazer pelo menos um teste para cada validação e para cada método. David H. Hansson (de novo o autor de Programando Rails "A Bíblia", vocês vão me ver fazendo várias referências a esse livro) vai ainda mais longe, sugerindo fazer um teste para cada asserção, e pelo menos uma asserção por método. Ele sugere dessa forma porque você saberá exatamente o que está testando, e saberá o que deve corrigir caso algo dê errado.

Particularmente, não uso essa aproximação. Já me basta saber qual asserção falhou quando elas estão agrupadas em testes um pouco mais gerais. Testo mais por situações.

Um bom exemplo é quando lidei com um sistema de autenticação. Fiz um teste para verificar se o usuário logava quando os dados estavam corretos, e outro para verificar se ele NÃO logava quando algum dado estava incorreto. Claro que poderia ter ido um pouco mais longe, e feito um teste para verificar se ele não logava caso o e-mail estivesse incorreto, outro caso a senha estivesse incorreta, outro caso ambos estivessem incorretos, e assim por diante.

Mas agrupar as asserções de testes mais parecidos num único teste não me trouxeram muitos problemas. Com o tempo, você (e sua equipe, claro) vão desenvolver sua própria técnica de testes, e é importante que todos concordem com a forma como tudo está sendo testado.

O importante é programar satisfeito.

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